As praias do Rio de Janeiro são referência no Brasil e no mundo. Quem vem em busca de cantinhos paradisíacos para se esticar na areia e se refrescar no mar não volta frustrado para casa. Mas um mau hábito da população ainda é constante e prejudica principalmente a fauna marinha: jogar lixo na praia.
Uma das mais afetadas pela poluição, a praia de São Conrado, na Zona Sul do Rio, é considerada imprópria para banho há anos. Vista por muitos como uma das praias mais bonitas da cidade, é comum encontrar suas areias vazias em dias de sol, pois os banhistas fogem da poluição.
Mas além da beleza, outra característica da praia de São Conrado são as ondas perfeitas para o surfe. A poluição de suas águas afeta diretamente os praticantes desse esporte, que freqüentemente apresentam alguma complicação de saúde. Freqüentador da praia há quinze anos, o bodyboarder campeão mundial, Paulo Barcelos, já viu amigos sofrerem por conta da água contaminada, e disse ao cenário UFF que alguns até deixaram de surfar no local por conta da sujeira. “Tem uns amigos meus que nem entram mais em São Conrado. Uma vez eu trouxe quatro australianos pra cá, dois ficaram hospitalizados.”
Bodyboarder local de São Conrado : David Barbosa
No ano passado a organização do circuito mundial de surfe proibiu que a etapa brasileira tivesse a praia de São Conrado como alternativa de sediar o campeonato, em caso de melhores condições de onda ao evento que rolou na praia da Barra. De acordo com o organizador, Xandi Fontes, a escolha dessa praia da Zona Sul foi feita pelos próprios surfistas, mas que ele não pode autorizar já que em visitas ao local era possível sentir fortes cheiros de esgoto. O que para ele poderia colorar em risco a vida dos atletas.
Diariamente são despejados propositalmente litros de todo o esgoto in natura, produzido pela comunidade da Rocinha, nas águas da praia através de uma perfuração feita na rocha no canto esquerdo do bairro. De acordo com o biólogo marinho Rafael Franca, esse esgoto nas águas cariocas é ruim tanto para a vida marinha quanto para a população em geral. “A gente pode ter uma série de doenças ocasionadas pelo excesso de esgoto in natura nesses ambientes. Toda essa poluição já está sim tendo grandes prejuízos, principalmente na zona pesqueira. A gente já consegue observar uma grande redução da população de organismos que são utilizados para alimentação humana mesmo." Disse Rafael.
Tartaruga morta na praia
Esgoto in natura sendo despejado em São Conrado
Cansados de esperar por medidas do Governo, moradores, bodyboarders, surfistas e freqüentadores da região se organizaram no projeto “Salvemos São Conrado”, que busca chamar a atenção do poder público e conscientizar a população. O grupo existe desde 2012 e sem financiamento, conta com a ajuda de voluntários, que recolhem os dejetos nas areias.
Marcello Farias, um dos idealizadores do movimento, acredita que, além do Governo, a população também precisa ter mais cuidado com a praia do bairro. “O maior problema de São Conrado é o despejo de esgoto in natura 24 horas por dia. O governo deixou o saneamento básico aqui da Rocinha, que nunca foi feito adequadamente.” Declarou Marcello.
O grupo tem muitas de suas ações divulgadas na internet, principalmente na pagina do Facebook “Salvemos São Conrado”, onde diariamente os colaboradores postam vídeos das condições das ondas, da água e da praia.
É chocante a condição da praia que está localizada em um dos bairros mais nobres da cidade, de acordo com Marcello Farias falta o engajamento da classe mais rica da região para que se resolva o problema de São Conrado. “Enquanto for uma luta de surfista e morador da Rocinha, as coisas não melhoram”. É o que Fabrini Tapajós, também um dos idealizadores do projeto, sempre declara em duas publicações em redes sociais.
u Publicação realizada na página do Facebook do Grupo
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