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terça-feira, 13 de setembro de 2016

O VESTIDO DE MARCELA TEMER: SERENIDADE, ORDEM E PROGRESSO

Durante o mandato de Dilma Rousseff, era comum ver o guarda-roupa da ex-presidenta sendo manchete nos jornais brasileiros. Agora, com a aprovação do processo de impeachment, não são os ternos de Michel Temer que estampam as capas, mas sim os vestidos de sua esposa Marcela. Nas notícias sobre a comemoração dos 194 anos da independência do Brasil, não foi difrente. 

No último dia 8, o jornal  Folha de São Paulo publicou uma análise detalhada da roupa da primeira-dama, mas o conteúdo não é uma crítica de moda. É, na verdade, uma tentativa de relacionar os detalhes do vestido ao plano de governo de seu marido. O texto, assinado pelo colunista Pedro Diniz, já tem no seu início o veredito final: "A primeira imagem de Marcela Temer na função de primeira-dama do Brasil é, antes de mais nada, um resumo do que o seu marido quer transmitir no início da gestão como presidente: serenidade, ordem e progresso". 

Em abril desse ano, antes mesmo da aprovação definitiva afastamento de Dilma Rousseff, a Revista Veja apresentou Marcela ao grande público através de um perfil chamado  "Bela, Recatada e do Lar". A abordagem escolhida gerou polêmica nas redes sociais, dando origem a paródias e muitas críticas. Contudo, a matéria da Folha, ao analisar o vestido, insistiu nessa tentativa de tornar mais popular e acessível a figura da primeira-dama. "A roupa de Marcela, mesmo que custe quase um salário mínimo, parece saída de uma brasileira média. O valor agregado é incalculável", escreve Diniz. 

Para encerrar sua análise, o colunista afirma que o vestido vai muito além de qualquer questão sexista sobre a relação da roupa com as mulheres em posição de poder, mas no parágrafo anterior enaltece o modelo utópico de mulher, afirmando que "diferentemente das últimas mulheres que ganharam o noticiário político no país, ela ainda é jovem, tem porte atlético e já mostrou interesse por moda". 

Em um momento de transformações políticas tão relevantes no país, uma coluna sobre o vestido de Marcela Temer passa desapercebida com facilidade.  Porém, não se trata de uma matéria isolada, mas uma linha editorial adotada por grande parte da mídia brasileira. A perpetuação desse tipo de pensamento pode explicar, por exemplo, porque a partir de agora serão os vestidos da primeira-dama e não mais da presidenta que virarão manchete. 


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