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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

As colunas da Folha e a pluralidade jornalística

"Dona Folha, tá difícil te defender" afirmou Gregório Duvivier na sua coluna para o jornal no último dia 5. Em seu texto, o humorista comenta um editorial  publicado no dia 2 de setembro sobre a repressão policial nas manifestações contra Michel Temer em São Paulo. Na análise, Duvivier faz críticas diretas ao veículo que abriga sua coluna. "Quando a senhora pede maior repressão a adolescentes desarmados, se alinha com o mais forte e faz vista grossa pra truculência. Jornalismo, para mim, era o contrário", escreveu.

Diante do debate sobre a falta de pluralidade na mídia brasileira, colunas como essa podem parecer uma luz no fim do túnel. Principalmente nesse período em que o cenário político é cada vez mais polarizado. Explicando a partir do vocabulário das redes sociais e de uma lógica biploar, a situação é a seguinte: um jornal de "direita" tem nas suas páginas as opiniões de um escritor assumidamente de "esquerda". Duvivier não é o único. Mesmo apoiando o processo de impeachment, a senadora do Partido Comunista do Brasil (PC do B) Vanessa Grazziotin, ferrenha opositora ao afastamento da ex-presidenta, é uma das mais recentes colunistas da Folha. Outro exemplo, é Vladmir Safatle, professor de Filosofia da Universidade de São Paulo (Usp) que recentemente publicou o texto "Ao final, Dilma foi afastada por um crime que nunca fora visto como crime". 

Além desses já citados, existe espaço ainda para outras vozes que destoam dos editoriais visto como conservadores do jornal. Entre esses representantes, estão Marcelo Freixo, um dos principais nome do Partido Socialismo e Liberdade (PSol) e Bernardo Mello Franco, jornalista que assinou colunas como "Dilma escolheu cair de pé" e "Direita, volver", fazendo uma referência ao que considera como uma guinada ideológica do novo governo. Por outro lado, colunas entituladas "#EsseImpeachmentÉMeu!" e "Fascistas vermelhos mostram a verdadeira natureza do PT", são alguns dos artigos escritos por Kim Kataguri, coordenador do Movimento Brasil Livre, publicados pela mesma Folha de São Paulo. 

Para os que acreditam em alguma imparcialidade dentro do jornalismo, esse cenário pode parecer encorajador, pois são os dois lados da moeda ocupando o mesmo espaço midiático. Porém, é importante ter em mente um ponto importante: jornalismo é negócio e seu objetivo é atrair leitores e, consequentemente, lucro. Então, para os mais críticos, a presença de figuras polêmicas nas páginas de um jornal, independente da sua posição política, pode ser vista simplesmente como um meio de atrair cliques e não uma preservação dos valores jornalísticos. Além disso, abrindo espaço para nomes da "oposição", o veículo abre precedentes para colocar a sua opinião disfarçada de coluna. E assim, o que seria parcialidade, vira apenas mais um ponto de vista no meio de uma "pluralidade" de ideias.

Elisa Calmon



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