Na noite do dia 5 de abril de 2017 o centro do planeta Terra era o palco do Theatro Municipal, no Rio de Janeiro. Dentro deste centro existia uma segunda galáxia com 9 planetas, cada um preocupado só e somente só com a própria rotação em volta do próprio centro. Uma boa narrativa. Separado em seus blocos, os músicos iniciaram como planetas separados, a energia brasileira os transformou em uma pangeia — e o DJ terminou tocando percussão.
O show iniciou de maneira esperada: Kamasi Washington, líder da super banda, puxou por seu saxofone. Com a companhia de um pianista, dois bateristas, um percussionista, uma cantora, um DJ, um trompetista — e um pouco depois, também teria a presença de seu pai, que toca o clarinete — formou uma melodia bonita, que em um momento avançou para um estouro épico — como sugere o nome do álbum que o levou para o estrelato “The Epic”.
O Theatro Municipal estava lotado e mesmo que fosse difícil levantar e dançar por conta de toda a conduta que o lugar pede, não havia uma única pessoa que não balançasse a cabeça freneticamente. Cada mudança de tom era motivo para aplausos e a energia era tão forte que em alguns momentos você podia sentir uma fumaça no ar, quando ela absolutamente não existia.
Presentes na cena do Jazz de Los Angeles, são músicos de ponta. Muito deles premiados e já consagrados. O show de Kamasi não soa como uma banda, soa como um encontro de cavalos selvagens, que correm por si só e só conseguiriam ser acompanhados por semelhantes. Como espectador que não consegue entender mais do que uma marcação de tempo 4x4, é incrível ouvir aquela união de barulhos que você não entende perfeitamente bem, mas gosta e depois se sente completamente inútil quando o tempo volta para o normal e não consegue fazer nada além de soltar uma baforada de satisfação.
Kamasi se portava no palco como um guru que comandava, mas seu comando só existia quando música não estava sendo tocada, em suas ligeiras falas com o público, ou em momentos em que ele se reservava o direito de fazer um solo — absurdamente — bonito de saxofone. Presença brilhante foi a do percussionista que muitas vezes ditava o caminho. Mais brilhante ainda foi a presença do Dj que fazia um conceito de sound design ao vivo. Juntos, esses dois fizeram um dos duos mais bonitos que eu já ouvi na minha vida, de percussão e eletrônico. Uma noite que sumiu com o peso do medo de não ter mais nada bom em música acontecendo. Pra guardar na memória. Então o grupo pediu bis. O Dj já havia guardado o laptop. Só restou uma alternativa: tocar uns tambores.
Marcella Moreira
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