
por Cecilia Boechat
Hematomas, arranhões e meninas sendo jogadas a mais de cinco metros de altura. Essas características provavelmente quebram o estereótipo que muitos ainda tem do Cheerleading, um esporte que tem crescido cada dia mais no Brasil. No imaginário de alguns ainda está a imagem clássica dos filmes hollywoodianos que retratam o esporte como um conjunto de meninas fofas, populares e desejadas na escola, mas essa visão não mostra o lado real do esporte.
A estudante de produção cultural Gabriela Mattos, de 20 anos, entrou pra a equipe Cheerwolves esse ano e já sofreu preconceito por causa do esporte. “Acredito que tem muito estereótipo entorno da ideia do cheerleading e do que realmente é. Falar que é cheerleader é ouvir muita cantadinha tosca e nojenta, parece que existe um fetiche entorno da ideia de cheerleader que fala mais alto que o esporte em si. Além disso, rola muito a ideia de que cheer é algo desnecessário, fútil e superficial... Muita gente nem sabe que existe de verdade, acha que é coisa de filme adolescente norte-americano”.
Os meninos que praticam o esporte também reclamam do prejulgamento. “Muitas vezes sou zoado por fazer parte do time, como se eu fosse balançar pompom e vestir saia. Muitos amigos meus se surpreenderam depois de eu explicar o que eu faço exatamente, que é algo que exige muito treino, força e comprometimento” lamenta o estudante de Desenho Industrial Matheus Cortes, de 20 anos, que participa da mesma equipe.
Uma das que foram surpreendidas pelo lado técnico desse esporte é a estudante de Publicidade Yasmyn Guimarães, de 23 anos. Ela participou do Jucs (Jogos Universitários de Comunicação Social), que ocorreu entre os dias 25 e 29 de maio em Campos dos Goytacazes, interior do estado do Rio, e afirma que estava esperando que as equipes de cheerleaders fossem compostas por meninas que cuidassem apenas de animar a torcida. “Quando vi os atletas fazendo as acrobacias fiquei de cara! E às vezes com um frio na barriga com medo delas se machucarem, haha. Achei incrível”.
Apesar de todo o esforço, muitas vezes o reconhecimento demora a chegar. É o que afirma o estudante de Publicidade Adriano Branco, de 24 anos, atleta da equipe Facha Blizzards. Segundo ele, os campeonatos regionais e nacionais fazem toda a diferença, mas no Jucs o processo de reconhecimento foi mais lento. “No meio Universitário era mais complicado. Não eramos bem vistos e a impressão que tinham de nós era aquela de filmes americanos e que todos odiávamos”.
Durante a premiação da edição desse ano, o troféu Thiago Félix, cedido àqueles que se destacam por ações honrosas, foi dedicado às equipes de cheerleaders de todas as delegações. Após a competição de cabo de guerra, os atletas se uniram na quadra aos gritos de “Jucs integração\No nosso esporte todo mundo é irmão” para mostrar força e união.
Segundo o treinador Maurício Van der Linden, formado em Educação Física e atleta do Cheerleading há 7 anos, no Brasil existem cerca de 100 equipes espalhadas de norte a sul. Para Adriano, a falta de reconhecimento atrapalha o desenvolvimento do esporte por aqui. “A falta de atenção e divulgação do esporte, acaba nos deixando nas sombras pra sempre, sem patrocínio, sem estruturas pra treino adequadas etc”, completa o estudante.
Mas o que atrai tanto nesse esporte? Para Maurício, as acrobacias mais arriscadas são um fator essencial pra sua paixão. “Me sinto um super herói levantando pessoas. Temos que ter muita confiança um nos outros, vontade de querer ser o melhor. Uma das minhas acrobacias favoritas é o basket” afirma, se referindo a um movimento no qual as bases lançam a flyer (menina que é levantada) o mais alto que conseguem. Segundo o Guiness Book, o recorde é um lançamento de 5,5m, mas ele afirma que já viu lançamentos de mais de 6m.
Além das vantagens para o desenvolvimento físico, há quem diga que o cheer funciona também como terapia. “Em agosto de 2015 minha avó materna veio a falecer bem no dia do aniversário de 91 anos dela. Foi algo que deixou a família bem abalada. De noite eu tinha treino e resolvi ir. Foi a melhor decisão que tomei. Durante o treino aquela tristeza toda passou, eu me diverti, ri e pude voltar pra casa com um alto astral que faltava e todos precisavam”, lembra o estudante de engenharia mecânica Guilherme Carneiro, de 24 anos, que participa das equipes Medicina UFRJ e Elite All Star.
Para a estudante de comunicação Mariana Marzôa, de 19 anos, que é atleta da equipe da Comunicação UERJ, o esporte também mudou mais do que sua aptidão física. “O cheer me da vontade de ser cada vez melhor, me superar cada vez mais. Quando consigo fazer uma acrobacia nova é como se eu tivesse fazendo a coisa mais incrível do mundo. Antes eu tinha muito problema de me achar a pior pessoa do mundo, achar que eu não tinha capacidade pra fazer nada de bom. Agora quando eu me supero é uma conquista pessoal”.
Os laços, cílios postiços, carão e muita atitude continuam fazendo parte do esporte, mas a cada nova acrobacia esses atletas mostram que de “fofo” o Cheerleading não tem nada.
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