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sexta-feira, 17 de junho de 2016

O feminismo de Brooklyn Nine-Nine

Por Raphaela Ayres

Algumas séries passam uma mensagem feminista com maior destaque, como é o caso de Jessica Jones, que mostra a personagem principal lidando com as consequências e traumas de seu abuso. Brooklyn Nine-Nine, entretanto, é uma série que passa uma mensagem feminista nas entrelinhas. Seu feminismo consiste em não possuir piadas misóginas e ter personagens homens que respeitam as mulheres como pessoas. Parece fácil e óbvio, mas em um mundo onde várias comédias se utilizam de piadas estereotipadas de mulheres e machismo em prol da piada, o feminismo da série – que muitas vezes passa despercebido – é importante e necessário.

Brooklyn Nine Nine conta com a presença de personagens femininas de raças distintas - para o público norte-americano Amy Santiago e Rosa Diaz são consideradas latinas - e que evitam estereótipos, tendo uma constituição complexa. Rosa Diaz é a detetive da série que mais se encaixa no perfil de “cara durão”, um papel que geralmente é destinado a homens. Ela é assustadora, esperta, difícil de ler e tem dificuldade em expressar emoções. Mas não há um motivo trágico para ela ser assim e em nenhum momento há uma busca para “melhorar” sua personalidade e torna-la mais dócil e gentil, ela é aceita tal como ela é.

Amy Santiago é uma personagem competitiva, que sempre tenta atingir seu melhor e gosta de se guiar pelas regras. Esse perfil poderia criar uma personagem "chata", que sempre implica com o personagem principal. Mas os roteiristas tiveram cuidado para que isso não acontecesse e que ela se tornasse engraçada a sua maneira. Já Gina Linetti não é uma policial, mas trabalha como administradora na delegacia. Ela é narcisista e adora elogiar e exaltar a si mesma, mas não faz mal a ninguém. Sempre acompanhada de seu telefone, sua personalidade “sem noção” rende várias tiradas engraçadas para a série.

Personagens mulheres de Brooklyn Nine-Nine: Amy, Rosa e Gina, respectivamente

Outro ponto positivo da série são as relações de amizade entre as personagens mulheres. Suas conversas não giram sempre em torno de homens, como acontece em alguns produtos ficcionais, passando assim no teste de Bedchel. Além disso, elas tem preocupação em apoiar umas as outras, apesar do choque de personalidades que ocorre às vezes.

Amizade entre mulheres. Créditos.
O personagem principal, Jake Peralta, é um homem branco e hétero, mas em diversos momentos ele apresenta comportamento feminista. Em uma entrevista a um suspeito, por exemplo, ele critica o comportamento de um homem que estava observando as mulheres fazendo exercício e quando ele começa a desenvolver sentimentos românticos pela colega de trabalho, mas ela está saindo com outra pessoa, ele respeita a sua decisão e tem consciência que ela não lhe deve nada. Ele também tem amizades com outras mulheres da série a quem trata como iguais e, em um determinado momento, quando ele desrespeita a autoridade da sua detetive parceira, ele pede desculpas.

Cenas da série. Créditos
Charles Boyle, outro detetive, durante a primeira temporada tem uma queda por uma detetive da delegacia. Ele tenta algumas investidas mas ela o recusa, afirmando que gostava dele como pessoa, mas não estava interessada nele romanticamente. O sentimento, entretanto, permanece. Até que em um episódio que Charles salva Rosa de levar uma bala. Essa situação já foi vista várias vezes em obras de ficção, em que o homem salva a mulher e passa a “merecer” o sentimento da pessoa por quem fez seu ato de heroísmo. Em um primeiro momento, parece ser esse o caminho da série, Rosa passa a agir de maneira legal com ele por gratidão. Até que Charles admite que não estava salvando Rosa, que agiria da mesma maneira com qualquer outro colega policial. E depois, invertendo a história que o “cara legal” sempre fica com a garota, Charles se apaixona por outra pessoa e, depois, pede desculpa a Rosa por ter feito ela se sentir desconfortável com suas demonstrações de amor não-correspondido. A partir daí, eles se tornam amigos.

O feminismo da série é algo tão entrelaçado nas relações dos personagens, que tal posicionamento raramente é discutido. E na verdade, em um mundo ideal, onde a questão de gênero não seria mais um problema, a serie não deveria ser exaltada por essa qualidade, já que deveria ser característica que todos os seriados deveriam possuir. Nesse meio tempo e período de transição, devemos reconhecer os pontos positivos da série e torcer para que esse padrão seja atingido por outras produções.

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