Acontece durante essa semana, entre os dias 29 de junho e 3 de julho, a Feira Literária Internacional de Paraty, a Flip já é a maior feira literária do Pais e uma das mais importantes de toda a America latina, a edição de 2016 traz como homenageada, a poetisa Ana Cristina César, a edição pauta o tema "Mulher" e já pode ser considerada a mais "feminista" desde a criação da Flip com record de escritoras mulheres participantes . No entanto, entre as 17 escritoras convidadas para compor as mesas do evento, não há sequer uma negra.
A comunidade acadêmica negra se manifestou perante a falta de diversidade do evento, nas redes sociais diversos internautas teceram criticas a organização da Feira; Em carta aberta a Flip,o Grupo de Estudo e Pesquisa Intelectual Negra da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) criticou a ausência de autoras negras na feira e o apagamento da produção literária negra por conta dos realizadores da flip,
"Em um país de maioria negra e de mulheres, portanto de maioria de Mulheres Negras, é um absurdo que o principal evento literário do país ignore solenemente a produção literária de mulheres negras como Carmen Faustino, Cidinha da Silva, Elizandra Souza, Jarid Arraes, Jennifer Nascimento, Livia Natalia e muitas outras. Que naturalizando o racismo, a curadoria considere que fez sua parte convidando autoras da raça Negra que infelizmente não puderam aceitar o convite." diz determinado trecho da carta.
Num nicho onde 93,9% dos autores são brancos e 72,7% homens, são varias as dificuldades de autores negros, especialmente as mulheres, em terem suas obras reconhecidas e publicadas, o mesmo acontece também ao analisarmos os veículos de comunicação do pais ,entre os jornalistas os números também são inferiores: apenas 23% dos jornalistas são negros e negras, uma pesquisa recente revelou que apenas 10% dos colunistas dos principais veículos impressos do país são negros.Esses dados mostram por que a critica ao evento é mais do que coerente, a ausência de escritoras negras na Flip nao só é um desrespeito com toda a produção intelectual de escritoras e escritores negros como colabora para a perpetuação de um mercado editorial e literario cada vez mais racista
Essa nao-representação diz muito sobre a herança escravocrata do Brasil e o racismo estrutural que vivemos hoje em nosso país, onde foi preciso nao só subjulgar e explorar o corpo negro como também priva-lo do acesso a educação ,assim como promover apagamento de sua história ou ainda o embranquecimento de autores negros como Machado de Assis e Cruz e Sousa. Esse aspecto persiste até os dias de hoje, onde o estudante deve ler obrigatoriamente os maravilhosos contos de Clarice Lispector, Cora Carolina ou Cecilia Meireles, mas chega ao ensino superior e se forma sem sequer ouvir falar de autoras como Maria Carolina de Jesus, Conçeição Evaristo ou Beatriz Nascimento.
É claro que nao se pode ignorar os avanços,sobretudo na ultima década, frutos das conquistas do movimento negro, como a aprovação da lei 10.639/ que torna obrigatório o ensino da cultura e historia afro brasileira nas escolas, e as cotas raciais que ampliaram o acesso de estudantes negros ao ensino superior, aias é esse mesmo negro que hoje ingressa na universidade e se recusa a ser somente objeto de analise da academia mas sim sujeito ativo de suas proprias historias e narrativas - que mais significaria emponderamento?
É preciso que se reconheça a importância de pautar outras narrativas que confrontem a historia unica do olhar eurocêntrico sobre o povo negro no Brasil, que incorporou esteriótipos na folclorização de personagens negras, como a da mulata fogosa, o negro preguiçoso, que contribuiu para a marginalização desses individuos criando uma arte que apenas serve a uma elite branca o que explica o por que alem de nao ter negros no palco da Flip, tambem não ha negros na plateia, tal como aponta Conçeiçao Evaristo: “Uma cidadania lúdica não nos interessa. Não queremos dar visibilidade só a desportistas e cantores, mas a negras intelectuais, professoras, escritoras. O Arraial da Branquidade não representa só a falta dos negros no meio intelectual, mas também as próprias relações sociais brasileiras.
Por: Maria Lúcia Meira
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