Trump concorre com Hillary Clinton ao cargo de presidente dos EUA
Neste contexto, entra em cena a ideia cada vez mais presente da "autenticidade" na política. Aquele candidato sem papas na língua, aberto, sincero, com princípios claros, vendem a ideia de honestidade e se destacam. Mas até que ponto todas essas características são reais (e não minuciosamente construídas) e como definir se elas, por si só, sem levar em conta outros valores, definem um bom candidato? No Brasil, Bolsonaro é o maior expoente desse movimento, que perigosamente lembra o fascismo italiano de Mussolini, ao defender a força por meio da ignorância.
"Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força". O trecho do clássico livro 1984, do britânico George Orwell, vem à minha cabeça toda vez que vejo um discurso de Donald Trump. O livro conta a história de um personagem oprimido num Estado autocrático e fascista, alegoria para a concepção que o autor tinha do futuro do período em que a obra foi publicada: 1948.
Trump é um fenômeno midiático. De pré-candidato azarão à posição de escolhido pelo Partido Republicano para disputar as eleições americanas contra Hillary Clinton, o bilionário coleciona desafetos, entre eles a comunidade latina inteira dos EUA, mas também agrega fãs entre a camada mais reacionária, conservadora e obscurantista do país.
Trump é essencialmente um vendedor . Ele utiliza uma linguagem simplificada, coloca palavras fortes na conclusão de suas frases, e produz sensações básicas em seus discursos. Quando perguntado sobre a questão dos muçulmanos no EUA, Trump tergiversa, responde sem responder, e consegue repetir a palavra "problema" 3 vezes em sua resposta. Com o problema sempre nos finais das frases, ele ecoa na cabeça de quem assiste. Sensações dotadas de meias-verdades estimulam sentimentos de dúvida, ou até concordância, na ausência de senso crítico. Sensações vazias estimulam a aplicação de jornalismo sensacionalista.
A mídia e Trump têm um relacionamento codependente que em muito lembra relações abusivas. A imprensa se submete em busca da audiência que a fala fácil e irreverente do candidato republicano traz. Como disse a BBC , o republicano é uma manchete ambulante. A TV e outros meios audiovisuaisvendem seu tempo para promover um candidato que sobe nas pesquisas por meio de discursos vazios com pitadas generosas de ódio. Nos últimos meses, o pré-candidato democrata Bernie Sanders, que deu muito trabalho para Clinton com sua ideologia socialista, não conseguiu nem de perto o mesmo tempo de exposição midiática que Trump conquistou.
Será que essa atenção realmente afetou os números nas pesquisas em favor do "Dangerous Donald", como ele vem sendo chamado pela assessoria de Hillary? Isso é quase certo. Votantes não mudam de opinião sem novas informações. Quando o público é bombardeado com o posicionamento de Trump sobre qualquer assunto, há apenas duas opções: ou a pessoa decide votar nele, ou continua indecisa (apenas decidindo que não vai votar nele).
Quando a mídia esquece outros candidatos, como o próprio Bernie Sanders, as pessoas não têm nenhuma opção a não ser ignorar sua existência. Sanders problematizou questões que afetam o país e o mundo profundamente, mas ele não atingiu o mínimo denominador comum. Ou, como William Bonner se refere ao telespectador médio da Globo, o Homer Simpson.
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