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terça-feira, 17 de maio de 2016

Como a midia esportiva retrata as mulheres

Esportes e mulheres, relação de muitas conquistas ao longo do tempo, mas também muitas dificuldades. A representação na mídia esportiva é um dos principais desafios que as atletas precisam encarar. Alguns esportes são encarados como “masculinos”, como as lutas e o futebol e a mídia esportiva carrega um histórico machista no retrato das mulheres nesses e em outras modalidades, que mesmo se consideradas “femininas”, carregam apelo sexual feito pela mídia.
O problema já começa pela divisão de atividades entre os gêneros, algo que ocorre não só nas modalidades esportivas. Desde a infância, por exemplo, vemos “brincadeira de menino” e “brincadeira de menina”. Menino não pode brincar de boneca nem menina de carrinho. Mais tarde, determinadas tarefas domésticas ou profissionais são delegadas a homens ou mulheres, dependendo de seu tipo. O mesmo acontece com os esportes. Futebol é “coisa de homem”. Ginástica é “coisa de mulher”. Homens que pratiquem esportes ditos femininos enfrentam piadas cheias de significados pejorativos. Com as mulheres, vemos a masculinização ou o apelo sexual como constantes formas de retrato na mídia. Se a atleta não segue um ‘tal’ padrão de beleza, deixa de ser a “musa”.
O destaque das mulheres na mídia esportiva é geralmente por seus atributos físicos, não por feitos no esporte. Muitas vezes, as fotos que ilustram as matérias são chamativas, com closes em determinadas partes do corpo da mulher. Experimente pesquisar “uniforme do vôlei de praia” (sem sequer botar ‘masculino’ ou ‘feminino’) no Google Imagens. Muitas fotos são de mulheres de costas, agachadas. Além disso, muitas atletas são chamadas simplesmente de ‘musas’ e não por seus nomes. Não vemos tantas reportagens se referindo aos ‘musos’...
Imagem 1Divulgação: dibradoras.com.br

É justamente o destaque e apelo sexual em detrimento do esporte que é o problema. Renata Mendonça relatou o que alguns jornalistas esportivos homens falam quando suas colegas de profissão se queixam dessa abordagem. “‘Mas por que incomoda tanto a vocês mulheres serem chamadas de bonitas? Vocês não gostam de ser elogiadas?’ Eles não entendem. Não é questão de elogio. Não é questão de beleza. É o fato de SÓ sermos lembradas e destacadas por esse aspecto.”, disse. Renata ressalta que o que importa é a audiência, os cliques e a repercussão que aquilo vai ter, só importa se ela é “musa” ou não.
As mulheres presentes no meio esportivo também enfrentam outras dificuldades como a falta de credibilidade e o preconceito, algo que acontece muito com atletas e profissionais femininas no futebol. As árbitras e bandeirinhas constantemente enfrentam situações desagradáveis. Os (infelizmente) comuns “tinha que ser mulher”, “seu lugar é na cozinha”, “gostosa”, que as profissionais precisam enfrentar quando estão dentro de campo, como Renata conta. Porém, a jornalista lembra que podemos mudar essa situação e que isso já pode ser visto, como o caso em que o jogador que levou o segundo cartão amarelo e foi expulso depois de falar para a bandeirinha que “futebol não é coisa para mulher”.
O preconceito que as atletas (ou amadoras) enfrentam geralmente vem acompanhado de pensamentos enraizados na sociedade que desqualificam a prática esportiva feminina. A campanha da Always, ‘Like a Girl’, mostra como esse pensamento está enraizado entre os adultos. Chutar, lutar, arremessar ou praticar qualquer esporte ‘como uma menina’ é algo ruim, que soa pejorativo.

Imagem 2.jpgCampanha Always 'Like a Girl'


Até mesmo matérias que deveriam divulgar boas iniciativas e falar de modo produtivo do futebol feminino, por exemplo, caem nos mesmos lugares comuns e pontos de vista machistas constantemente reiterados. É o que faz uma reportagem do Globo Esporte São Paulo, como relata Maiara Beckrich. “Telespectador do GE, chega de homens suados. Essa reportagem está bem mais agradável para os nossos olhos”, assim é a abertura da matéria, que fala de um projeto de São Paulo, o Pelado Real, que reúne mulheres que gostam de jogar bola. A abertura diz, com isso, que só quem assiste ao Globo Esporte são homens (héteros). Mulher não pode gostar de futebol.
Maiara problematiza uma série de questões envolvendo essa reportagem, como o fato de que mulheres não saberiam jogar futebol. “‘Mas se você acha que elas são apenas bonitas, espere! Elas realmente conseguem fazer passes e gols. IN-CRÍ-VEL.’ Até que são boas para meninas.”, escreve.
As mulheres já avançaram e conquistaram muito espaço no cenário esportivo. Falta a mídia acompanhar esse progresso e, mais importante, respeitar as mulheres como atletas. Conhecedoras, admiradoras e atletas profissionais de seja qual for o esporte, que batalham como qualquer um para construir uma carreira esportiva.

Por: Carolina Lopes

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